segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Bomba relógio

Eu acho que estou avariada, uma máquina do sistema que extraviou pelo caminho, perdida nas regras, nas exigências, nas expectativas, já não aguento as perguntas "Já decidiste o que vais fazer para o resto da tua vida?", "Não? Tic-Toc, olha o relógio", "Temos aqui uma doutora! Que orgulho!". Tenho 20 anos, a idade limite para decidir o meu sucesso, o que quero ser, sem saber se quer  responder à pergunta"Quem és tu?", tenho uma bomba relógio na cintura, onde os fios percorrem cada milímetro do meu corpo e me ameaçam a cada segundo que envelheço de uma possível explosão. 20, duas décadas, avariada, a tentar fugir de uma rotina que acho estupida, eu não quero acordar todos os dias às 6 horas da madrugada com sentimentos de angústia e arrependimento por não ter escolhido o outro caminho, que desconheço, vestir a roupa que me é exigida por um trabalho enfadonho, que me deixa infeliz e me faz gritar com o rapaz que está a vender roupa naquela loja que faz milhões todos os anos, tudo isto por virei na rua errada quando tinha 20 anos. Eu não quero ser a bomba relógio, não quero fazer corridas contra o tempo, onde o destino já decidiu o vencedor, e para ser sincera não vejo nenhum pódio ao longe, e assim pergunto-me por quanto tempo mais posso eu fugir ao inevitável? Quanto tempo até enlouquecer com este som que me avaria mais a cada dia que passa? Não fui preparada para fazer uma decisão destas, sinceramente, não sei se alguém foi, ao longo da nossa vida aprendemos várias coisas, umas mais uteis que outras, secalhar perdi esta parte da matéria, bom, secalhar o melhor mesmo, é ir aprender a desarmar bombas.




sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Infância inocente






Quando dou por mim estou a criticar a sociedade em que vivo, a construir debates dentro da minha cabeça com homens de poder, que confesso, desprezo um bocado. Já não tenho a visão inocente da menina de seis anos, em que não via mal nenhum em um ovo kinder ser dois euros e meio, e uma bicicleta com rodinhas cento e tantos euros, que chorava e explicava elaboradamente como era importante ter estes bens materiais e dizia que todos os seus amigos já os tinham! Não compreendia a tristeza que os seus pais sentiam, que com o seu salário medíocre, não conseguiam dar-lhe estes bens indispensáveis para ela na altura, por serem explorados por uma sociedade suja e corrupta pelo poder e dinheiro. Ainda me lembro quando ficava contentíssima pela chegada da quadra natalícia, onde me colava à televisão a ver todos os anúncios de brinquedos velhos e novos, iludida por contos de fadas criados pelo dinheiro, que me cegavam e não me deixavam entender os verdadeiros valores do Natal, com as ilusões daquela caixa mágica que enganava aquela minha inocente infância, onde tudo o que importava era ter o maior número possível de brinquedos, porque aquela criança de seis anos era inocente, ela não percebia a tristeza, nem os esforços dos seus pais, que nunca parecia suficiente pelo que a televisão dizia. Maldita televisão, só dizes asneiras. Já não quero o ovo kinder.


Imagem: Luis Quiles

sábado, 14 de novembro de 2015

O Metro.


Encafuados dentro do metro que nem formigas, formigas que seguem a mesma travessia em nome da rotina diária, mas sem saber bem a sua funcionalidade, vejo caras diferentes mas com as mesmas expressões de sempre, expressões depressivas e zangadas com a vida, em que na altura de ponta gritam e reivindicam o seu direito de também caber no metro, apesar de já estar tudo de cara encostada à janela e a cheirar sovacos de estranhos, empurrões e brigas por um espaço neste transporte tão querido para ir para a sua morte, gordos e gordas roubam o lugar por já nem aguentarem um minuto em pé com tantos menus do McDonald's que engoliram, deixando velhinhos em pé que já nem aguentam com as próprias pernas e se queixam de dores nas costas. Uma vida humana que não se compreende, lutam todos os dias por o que nunca quiseram lutar, gritos por todos os lados, na direcção errada, revoltas mesquinhas por cinco minutos sentados. O metro. Tem muito que se diga.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Monólogo duplo


Perguntas-me: "o que se passa contigo?" e eu, estou estranha, respondo, nunca fomos normais, sempre fomos anormais, verdade seja dita, alguém gosta de ser normal? Qual é a piada? Já que estamos cá, tentamos vencer com estranheza e alegria, ser diferente, ser o laranja no preto, não gosto do normal, não gosto! não gosto! e não gosto! repito, recuso-me à normalidade, recuso-me a esta pressão mundana que me impões, pensas que sigo as tuas regras, mas será mesmo que as sigo? Regras e regras, tantas e tantas, umas entre outras, confundidas que não me interessam, desapareçam suas filhas da mãe! ninguém vos quer! desapareçam! vou viver sem vocês, fugir para o jardim dentro da minha cabeça onde não podem chegar, sem avisar, desapareço, sem me despedir de vocês, para ver quanto vos desprezo, Adeus, adeus! Nem explicações merecem, só um adeus e já é exagerado!
"Blasfémia!- ouve-se de longe, são as regras!- "Tu sabes que precisas de nós, que era de ti? não eras ninguém! eras outro marginal sem margem à beira de cair no abismo profundo"
que cliché, que cliché! -digo eu- Abismo isto! Abismo aquilo! Achas que quero saber desse tal abismo?! eu sou a fluorescência no escuro, logo ele não me atraí, ele não me quer! Já disse para irem, não olhem para trás mais, nem uma vez, vocês são loucas em tentar se quer me mudar!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Carta para a minha paixão

Carta para a minha paixão. Essa é uma carta difícil de escrever, porque na realidade qual é a minha paixão? é uma pessoa? é  música? é a vida? Como se pode escrever uma carta para a nossa paixão, quando este conceito pode ser tão vasto? Não existe exactamente somente uma paixão nas nossas vidas, nós tendemos a acreditar que temos somente uma paixão, normalmente "alguém", mas por vezes as nossas paixões surgem em diferentes formas, mais que um corpo, como a arte, a vida esplêndida e complexa, ou então pode ser um conjunto, eu não sou confiável ao escrever esta carta, porque não me encontro completamente apaixonada por alguém e é difícil determinar se vou estar brevemente, apesar de aparecer umas esperanças aqui e ali, nem tudo é o que parece, mas romantismos à parte, posso garantir que estou apaixonada pela música, pelo som suave da guitarra que soa nos meus ouvidos ou pela voz harmoniosa que fica na minha cabeça dias e dias, apaixonada pelas cores que deixo cair na tela ou mesmo a sensação do lápis a criar algo que eu imaginei e dei vida e entre outras tantas paixões que não dispenso na minha vida. Posso concluir que a vida é uma paixão? é para ela que estou a escrever? É algo complicado de responder na realidade, mas se assim fosse, acredito que fosse uma paixão-ódio, porque a vida por vezes pode ser uma cabra gélida, mas todos temos as nossas fases, secalhar a vida também tem esse direito... Secalhar a vida é só a nossa reflexão, as energias que nós passamos no nosso Mundo, deste modo, mas vale sermos apaixonados por ela. A minha declaração estranha/confusa à vida.